Luiza Porto
2 min readMar 25, 2023

Angels

Quem nunca esteve numa missa, no interior de uma capela, não compreenderia quando eu dissesse que as vozes em minha cabeça são como um coral nesta manhã.

Não compreenderiam se eu dissesse que as visões que tenho de ti, são como anjos pintados na abóboda.

E que me sinto como o anjo do telhado, com seu olhar cimentado, pesado por suas asas de solidão, observando, e odiando tudo, sinto raiva e sinto tanto copiosamente que algo se apegou em mim.

Eu poderia me embebedar do cálice profanamente, criar uma ruptura entre mim e Deus, e ainda assim, ir ter com Ele indignamente, com minhas asas pesadas, reclamar minhas orações, hey God! you did you hear what I said in that prayer?

Pudera eu encontrar em minha loucura um monge, ou padre, um servo exorcista, ou um sábio, em qualquer lugar, em uma igreja, sinagoga, templo ou quem sabe numa calçada, nas ruas de Bale, ou nos encartes de ciganas fixados em postes das ruas do centro, queria encontrar alguém que fosse santo ou estupidamente louco e digno de misericórdia celestial que pudesse me conduzir ao Átrio e quem sabe se pedisse em oração, e se Deus ouvisse e se compadecesse, talvez eu pudesse vencer a minha própria infâmia e incredulidade.

Mas hoje, talvez não.

Talvez hoje, eu visse com prazer se tudo pudesse se consumir em fogo, se até as cruzes e a capela queimassem, e o fogo consumisse tudo, seria extensão do que você me deixou sentir.

Mas não há nada além de estupidez.

Confiei meus segredos a um demônio, me embriaguei da loucura dos seus lábios, sussurrei coisas santas ao vento, desejei ter e ainda desejo a tua profanidade.

Aquele sorriso em seu rosto, era um anúncio das ruínas de Éden, seus olhos inocentes tornavam mais fácil confiar.

Confiei.

Mas se eu o conhecesse antes

Fazendo o que esta fazendo

Talvez eu me apaixonasse de novo

E talvez por isso hoje, eu deixasse que os templos queimassem, e o coro não se repetiria mais e os anjos na abóboda queimariam.

Queimaríamos.