Não faz sentido
Acordei bem cedo, e antes de sair tomei um café frio que estava na pia, puro ópio.
Tinha um pão seco no armário, mofado como meu coração, está aí “Coração peludo” agora entendo a maldita frase, coração de quem não ama mais ninguém, se pá já é, qual foi 😅 faz sentindo ué.
Rindo ainda do desengano fui lá fora e vi que a roseira tinha morrido coitada, estava seca, as folhas amarelas, reguei assim mesmo nunca se sabe quando é que se volta a viver.
O girassol também se foi, minha irmã disse que era do mato, não entendi, achei que fosse tudo do mato, enfim.
Peguei uma bike velha, o pneu murcho e a magrela ali cheia de coragem com as peças do guidão enferrujadas feliz de tétano mas me convenceu. E fomos, só se vive uma vez e era naquela manhã o se vive agora.
Resolvi que ia viver os riscos e que ia deixar o moderadamente pra depois pra quem sabe algum dia viver de prosa e enfim taquei o foda-se
Rumei na avenida com o meu compasso acelerado, tomei buzina, e grito de motorista estressado, fingi demência, atravessei os faróis fechados, cruzei a porteira na linha do trem, Maria cantou fumaça, nem vi, eu só não queria graça.
Rumei sentido av. Brasil, minha alma foi primeiro então sobrou coragem, rumei na ladeira sem freio as vezes batendo o pé no chão e queimando os chinelos, nem era adrenalina era vício e a expectativa da dor, e depois dopamina e alento, Deus é que sabe.
Tombei.
Cai tantas vezes que nem dei conta.
Alguém me socorreu e depois de uns dias eu fiquei bem.
Mas lembrando, ainda choro ao longo do dia, passou mas a dor é permanente.
Esta ai uma dor que eu não conhecia, a da coragem de viver o “se vive agora”
O sintoma é de inadequação.
Daqueles que não encaixam sabe ?
Daqueles em que não há diálogo.
Parece que estou falando de outra coisa em verso, mas ainda assim é da bike.
Enfim aos poucos a ferida foi se curando e foi sem muitos remédios, e era daquelas do tipo joelho ralado na carne que a mãe passa Merthiolate e mercúrio escorrendo na espuma de água oxigenada, pois é, dói e inflama.
Sobrevivi.
